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sexta-feira, 21 de março de 2014

Amamentação no hospital

A amamentação no hospital, como todo o resto, foi o pior possível.

Quando cheguei no quarto, ainda com as pernas amortecidas, meu marido colocou a Luíza pra mamar. Ela ficou em cima de mim e assim que eu coloquei o peito ela sugou na hora e o primeiro comentário que eu fiz foi "Nossa, ela pega direitinho!". Me deu um certo alívio, pensando ingenuamente que se ela pegava certinho eu não teria problemas...ledo engano.
Ela ficou ali, mamando, mamando...minha mãe que estava me ajudando, trocava ela de peito, e ela sugava e sugava. Saía do peito e chorava. Sugou a noite inteira e de manhã percebi que haviam se formado duas bolinhas de sangue no meu mamilo, dois pequenos coágulos, de tanto ela ter sugado e não ter leite pra sair.
Aí começou a maratona, todo mundo me dizendo que criança tinha que ficar no peito o quanto tempo quisesse, pra estimular a descida do leite. Isso significa criança mamando 24 horas por dia, num peito sem leite.
Pausa: a descida do leite é estimulada pela sucção o caralho. Se fosse assim, mãe que tem um bebê natimorto não teria leite. 
Continuando...
Saía do peito e berrava. Todo mundo vinha cheio de teorias e eu só sabia repetir uma coisa: "É fome. É fome. É fome..." Quase um mantra.
Luíza começou a chorar tanto que eu entrei em desespero e coloquei em prática meu plano B. Liguei para o meu pai e disse "Corra na farmácia comprar uma lata de NAN que a Luíza berra de fome e eu não tenho leite!". Ele foi e me trouxe, começou a Operação Leite Artificial. Meu marido colocou água morna numa garrafinha térmica e meu pai levou o NAN e a chuquinha numa sacola enorme, todo um disfarce rolando.
Quando recebi a sacola, ainda resisti por mais umas horas. Quando ela começava berrar de fome (veja bem, nem chorava, berrava mesmo!) eu colocava no peito, mas aquilo foi ficando angustiante, de uma certa forma que eu fiz a mamadeira, com muita dificuldade e como se eu tivesse cometendo um crime, parecia que eu seria presa se alguém visse, até parece que eu estava preparando veneno! Enfim, dei o leite escondido e rapidamente ela mamou tudo. Ficou quieta por umas três horas e depois começou a berrar de novo.
Quando vieram fazer aquele maldito teste de glicemia, a enfermeira se espantou, disse que estava ótimo pra um bebê cuja mãe ainda estava só com o colostro. Me elogiou e disse que era pra continuar assim, colocando ela pra mamar sempre.
Fiquei com medo da glicemia dela subir depressa demais e eles desconfiarem, se isso acontecesse provavelmente não me dariam alta (é o que eu pensava) e passei a dar novamente só o peito.
Um dia depois eu já estava com os mamilos doloridíssimos, assados e começando a rachar. Comecei a passar o Bepantol após cada mamada, pois quando tive o Fernando, o mesmo pediatra que estava lá dessa vez, disse que eu podia passar o Bepantol e nem precisava tirar pra mamada, então, dessa vez passei a fazer isso também, mas para o meu azar, a enfermeira, ou tecnica, me viu passando a pomada e veio me xingar. (levo como xingamento, tamanha falta de educação.) "NÃO PODE!! Quem te orientou a fazer isso?!?!?!?!"
Como quem diz "SUA IDIOTA! QUEM DEU ORDEM PRA VOCÊ FAZER ISSO?? POR UM ACASO EU MANDEI VOCÊ FAZER ISSO???"
E eu disse 'Ninguém deu ordem'. E ela disse 'Então não passe mais!'
Continuei passando escondido, mas toda hora pediam pra ver o meu mamilo e eu tinha que correr tirar a pomada antes que vissem, um saco. A verdade é que se eu não tivesse passado Bepantol teria saído de lá com os peitos em carne viva.
Aí começou a saga do 'Vou te ensinar amamentar'.
Cada hora vinha uma enfermeira com aquela técnica maravilhosa de fazer a pega no meu mamilo e empurrar a cabeça do bebê pra que pegue o mamilo todo. Eu, como da primeira vez, comecei a ficar nervosa com tamanha falta de respeito e já estava com 'sangue no zóio' a ponto de esmurrar a próxima enfermeira que viesse pegar em mim ou na minha filha.
Veio uma, apenas uma, com total respeito. Colocou uma luva,perguntou se podia me ajudar. Eu perguntei 'Posso eu colocar a minha bebê pra mamar e você ver?' Ela disse 'Sim, claro!' Eu coloquei a Luíza pra mamar e ela olhou, e me disse 'Está certinho, mamando certinho, é assim mesmo!'. Me deu a dica de colocar o dedinho na boca dela pra tirar o peito (a qual eu já sabia) e pronto. Simples assim.
Mas as outras enfermeiras...principalmente uma mais infeliz, me pegaram pra Cristo. Elas perceberam a minha resistência em aprender, e me pegaram pra Cristo. Vinham, cinco, seis vezes no dia, com aquelas luvas, aquelas técnicas idiotas, me dando lição de moral.
Teve uma que veio com aquela 'técnica infalível' de cutucar a bochecha do bebê quando ele dorme. A Luíza dormiu mamando e eu passei o dedo na bochecha dela, quando a enfermeira disse "Mas não pode fazer carinho, tem que incomodar! Assim ó!" E cutucou com força a bochecha da MINHA FILHA!!!!
Agora pensem numa mulher que acabou de ter filho, passou por uma cesárea e está com os hormônios à flor da pele...Auto controle, a gente via por lá! Muito!!!

Engraçado que no meu quarto havia mais três mães e mais três bebês, mas elas ficaram invisíveis, o foco era eu, talvez pela rebeldia rs

Próximo capítulo: a fonoaudióloga.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Pós parto - No hospital

O pós parto no hospital foi o pior possível. Passei dois dias de muito estresse por lá.
Não foi ruim pela minha cirurgia, não mesmo. Mesmo com dificuldade, eu conseguia levantar, fazer as coisas, enfim, aquela história que vocês já sabem: mil vezes a dor de uma pós cesárea do que as contrações do parto normal.
Passei dois dias infernais por N motivos.

O hospital era muito barulhento, não tinha sossego, era um falatório danado. Fiquei num quarto com mais três puérperas e um banheiro onde a limpeza era feita uma vez por dia, imagina? O estado do cesto de lixo, do vaso sanitário, o mau cheiro... A água saía do chuveiro fervendo, dava até medo de cair a pressão, muito quente mesmo.

As intervenções foram váááárias. Nem eu nem a Luíza tinhamos sossego. Durante a madrugada não era tanto, mas durante o dia, de 20 em 20 minutos entrava alguém. Uma enfermeira, um médico, um estagiário..
Pra pesar: tira toda a roupa da criança que tinha acabado de dormir após duas horas no peito. Após a pesagem, mais duas horas no peito sem leite, até dormir de cansaso.
Exame de glicemia: tira o mijão e acorda a criança que tinha acabado de dormir e segura a perna pra furar o pézinho. A criança berra e volta pro peito que não tem leite.
Banho: Acorda e tira toda a roupa da criança que é hora do banho.
Exame da orelhinha, exame do pézinho, exame do olhinho.
Tiiiiiiiiira rápido toda a roupa da criança que o pediatra tá vindo aí!!
Não passa pomada, não passa talco!
E vem estagiário medir a pressão, escutar os batimentos, perguntar se está tudo bem.
E vem o médico ver o corte da cesárea e dá uns apertões na barriga super dolorida pra ver se está com gases.
Acorda que é hora do rémédio. O almoço, o café, a janta.
As enfermeiras ensinando amamentar também vinham umas cinco vezes ao dia (isso merece um capítulo a parte)
E até vacina contra Rubéola, Catapora e Sarampo eu tomei.

Foram dois dias de muito estresse, pouco respeito.
Lá, eu não tinha, e nenhuma mãe tem, autoridade pra nada. Chupeta? NÃO! Talco? NÃO! Leite artificial? NÃO! Pomada? NÃO! Bepantol no mamilo? NÃO!
Era tudo assim, com esse NÃO bem grosso e enfático. E eu não pedia opinião não, mas sempre que elas viam me davam lição de moral.

Considero que fui totalmente desrespeitada, em nenhum momento respeitaram a minha vontade e o meu jeito de cuidar da minha filha. Impuseram ordem a todo instante, todo momento, com muita grosseria e falta de educação, não respeitando as mães e muito menos os bebês.

Eu tive a Luíza na mesma maternidade do Fernando, mas o tratamento foi outro. Do Fernando já foi ruim, esse foi pior. Entendo que existem regras a serem seguidas, alguns exames e protocolos, pra quem teve bebê em hospital, são inevitáveis, mas a falta de respeito foi demais, ultrapassou os limites. Eu não era livre lá, era um pau mandado. Passei dois dias que pareceram uma semana, e no dia da alta, eu estava sentindo amortecido perto do cóccix, mas fui louca mesmo e não disse nada, disse que estava ótima, pra vir embora. Eu não contrariava as enfermeiras, pelo menos tentei não fazer isso na frente delas, pra não me segurarem lá. A vontade que eu tinha era mandar pra puta que pariu e enfiar a mão na cara de uma, mas eu me controlava pra poder ter alta.

Quando chegou a hora da minha saída, não saí correndo como da outra vez, nem de pijama. Troquei de roupa, penteei o cabelo, passei maquiagem! Arrumei a Luíza e saí feliz da vida, rindo e muito tranquila. Uma calma que jamais esperei ter dois dias após o nascimento. Realmente, uma gravidez é diferente da outra, mas dessa vez consegui controlar o meu psicológico, pois várias vezes me via caindo, sucumbindo e não sei da onde tirava forças pra levantar e seguir em frente.

sábado, 8 de março de 2014

O Parto

Então eu estava numa situação de tudo ou nada, de agora ou nunca. Soube que o meu médico cesarista, que fez todo o meu pré natal, dava plantão um único dia na semana no hospital que eu teria a Luíza. Esse dia era quinta feira, dia de consulta. Numa madrugada de insônia, pensando se ele aceitaria ou não o meu pedido, tive um medo: e se o plantão dele começasse na madrugada de quarta pra quinta? Minha única chance teria ido por água abaixo. Então, antecipei por conta própria o dia da consulta e na quarta de manhã apareci no posto pedindo um encaixe.
Ao entrar na sala, o médico perguntou o que estava acontecendo, se eferindo ao adiantamento da consulta. Eu tavatão nervosa que só falei abobrinhas, disse que eu estava nervosa, há dias sem dormir por medo do parto e que queria cesárea. Ele se espantou achando que eu queria a cesarea naquele momento, e disse que se me encaminhasse para o hospital o médico me mandaria de volta pra casa, pois eu estava sem dor e sem dilatação, mas que ele poderia fazer a cesárea no dia seguinte, e que era pra eu ir ao hospital às 14:00, que ele chegava às 13:00.
Mal coube em mim de contentamento. A todo momento pensamentos pessimistas me rodeavam, como por exemplo: e se ele, por algum motivo, não for trabalhar amanhã? Mas eu tive auto-controle, o que pra mim é difícil, muito difícil.
No dia seguinte lá estava eu, meu marido, Fernando, minha mãe e meu pai. Chegamos na maternidade 13:00 hora. Tinha bastante gente pra ser atendida, grávidas com dores de parto que voltavam pra casa. Teve uma que se recusou a ir, ficou na portaria, pois estava de 35 semanas e com contrações. Enfim, ele me examinou e começaram os procedimentos.
Fiz minha ficha de internação, a atendente perguntou se minha cesárea estava agendada (com um certo ar de especulação), eu disse que não.
Deitei numa maca e me colocaram no cardiotoco. Fiquei lá por 15 minutos, e respondendo perguntas.
Achei que ia direto dali para a cirurgia, perguntei pra enfermeira se eu podia avidar meu marido que eu tinha entrado, pois ele não tinha visto, e ela me disse que não, e perguntou em tom irônico se ele estava com pressa.
Saí dali e fui pra sala de preparo. Deixamos as malas no quarto e fomos. Fui orientada a colocar a camisola e deitar na maca. Ok, deitei na maca e a enfermeira me pediu para trocar de maca, OK. Lá veio ela passar a sonda. Não doeu mas ardeu, e fiou ardendo, fiquei com aquela sensação de querer fazer xixi. A enfermeira me pediu pra passar pra outra maca e eu seria levada, Ok! Fácil que é levantar e deitar com aquele barrigão e dor nas costas..mas OK, essa enfermeira pelo menos era muito boazinha, delicada, prestativa, um amor mesmo.
Lá fui eu na maca pelos corredores. O tempo todo eu perguntava do meu marido, se ele poderia assistir, uns diziam que talvez, outros diziam que não. Filmar, nem em sonho! Foram categóricos, nem filme, nem foto.
Fiquei na sala de pré operatório, fiquei lá esperando por uns 20 minutos, até que me levaram.
Ao entrar na sala de cirurgia, passei pra outra maca, uma maca dura feito cimento.
Começaram os procedimentos e eu sentei pra anestesia, o médico me passou na costa um negócio bem gelado, e depois mais um bem gelado (imaginei aquilo no frio...) e depois a anestesia. Olha, doeu. A anestesia doeu bastante, eu me contraí toda, o anestesista pediu pra eu relaxar, soltar o bumbum na maca pra que fosse mais fácil, mas eu sentia o líquido entrando na coluna, não tinha fim! Com o Fernando não senti nada disso, talvez por estar  com dor de parto, a anestesia foi como uma picada de pernilongo, perto daquela dor. Após isso deitei e ao conversar com o anestesista descobri que ele era conhecido do meu marido.
A anestesia começou a fazer efeito e caiu a minha pressão, fiquei com ânsia e aquela sensação de desmaio, ele me aplicou um remédio e em um minuto eu estava normal.
Ao olhar pro lado vi o meu marido, que ficou meio assustado ao me ver naquele estado, e branca, a cor ainda não tinha voltado...Perguntei se ele estava nervoso e ele disse que sim, ainda mais me vendo daquele jeito. Eu já estava com os braços amarrados e com aquele pano no rosto.
Nota: Pra escolher parto cesárea você tem que confiar 100% na equipe, pois fica totalmente entregue.
Meu marido me deu a mão e ficamos lá, esperando. Em alguns minutos o médico disse: nasceu! E nós escutamos o chorinho. Um chorinho baixinho, bem delicado. Eu disse que estava chorando muito fraquinho e o médico, o amigo, disse que era normal, que mal tinha saído e já chorava, e que tinha feito cocô na minha barriga. Eu perguntei: 'Na minha barriga ou assim que saiu?', e ele disse 'Assim que saiu', e me mostrou nas fotos que havia tirado. Na mesma hora falei para o meu marido: 'Ela fez cocô de medo'. Sei que sim.
Eu não a vi, a não ser por foto. A levaram e trouxeram um tempo depois, pra mim pareceu bastante, tipo uns 10 minutos, mas não sei ao certo. Quando a vi no colo do pediatra, estava limpa e de pulseirinha. Ela tinha o rostinho que eu imaginava, diferente do Fernando que nasceu totalmente diferente do que eu pensava. Luíza era, parecia, miudinha e branquinha. O médico colocou o rosto dela junto do meu e eu disse "Oi meu amor...pronto, já passou!!"
Nasceu as 16:10 com 3,530kg e 50 cm, com apgar 9/10.
Meu marido saiu da sala e eu fiquei lá um tempão, a Luíza tinha sido levada e me disseram que trariam dali uma hora. As enfermeiras me limparam, me passaram pra outra maca e fui pra sala de pós operatório. Fiquei lá por uma hora. Senti coceira nos braços, seios e rosto, mas disseram ser normal, dava pra suportar. Não me senti mal por não mexer as pernas, me sentia relaxada e nem tentava mexer, me sentia muito cansada...não entendo porque se não fiz nada, mas parecia que tinha corrido uma maratona.
Fui para o quarto, me passaram pra cama e trouxeram meu marido e a Luíza. Na mesma hora vi que o olho dela estava vermelho e inchado, eu sei que foi aquele colírio. A colocaram no meu seio direito e ela abocanhou e sugou super forte! Eu disse "Olha, ela pega certinho, sabe mamar direitinho!!"
Meu marido saiu e entrou minha mãe. Luíza ficou ali em cima de mim, mamando e dormindo, já com a roupinha que eu havia separado pra ela, e de banho tomado. Ficou ali por horas...
Quando foi 22:00 levantaram a cabeceira da cama e trouxeram alguma coisa pra eu comer, mas eu já havia tomado uns golinhos de suco Ades da minha mãe, pois estava em jejum desde as 9:00 e com a boca seca.
Assim foi o nascimento da Luíza. Bonito? Não. Mas no auge do meu egoísmo, confesso, ainda prefiro todo esse sofrimento do que a dor do parto normal. Se a minha filha prefere? Certamente que não. As lembranças são doloridas, jamais me sairão da memória, mas pra mim, infelizmente, o parto, ou nascimento, é uma passagem pela qual eu tive que passar para ter os meus filhos. É natural, deveria ser encarado por mim com naturalidade, mas encaro como parte do processo, a parte ruim, dolorosa, a qual deve ser superada a cada minuto. A cada minuto que passava eu pensava 'menos um', a cada dificuldade superada eu pensava 'menos uma'. Foi sofrido sim, pra mim, pra Luíza principalmente, eu sabia que seria mas ao ver tudo fica ainda mais dolorido. Fez parte e tinha que ser assim.