Um mendigo pede um prato de comida todos os dias, e você pode dar. Você dá? Isso te incomoda?
Uma pessoa carente confia em ti e desabafa. E todos os dias precisa conversar. E todos os dias, ela não precisa de um prato de comida, mas de uma conversa.
Aí, um dia, você deita no sofá, cansada. Começa a novela, e bate à porta o mendigo. Você levanta e dá-lhe um prato de comida?
Ou, um dia, você deita no sofá, cansada, começa a novela, e bate à porta aquela pessoa que precisa conversar. Você a convida pra entrar? Um, dois, três dias? Dz dias? Todo o mês? Sempre? Sempre estará disposta a ouvir?
Deixará de dormir, de assistir à novela, de lavar a louça, de estender a roupa, pra ouvir o desabafo dessa pessoa? Ou pensará que aquilo tudo não passa de uma frescura, de um vício e que essa pessoa te pegou pra 'Cristo'?
Você perderia cinco minutos do dia pra dar um prato de comida ao mendigo, mas não perderia vários minutos do dia pra ouvir um desconhecido ou até mesmo um amigo desabafando? Então, você é igual a mim.
IRMÃ
ROSÁLIA
Paris,
1860
9 – “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos
outros o que quereríamos que nos fosse feito”. Toda a religião, toda a
moral, se encerram nestes dois preceitos. Se eles fossem seguidos no
mundo, todos seriam perfeitos. Não haveria ódios, nem ressentimentos.
Direi mais ainda: não haveria pobreza, porque, do supérfluo da mesa de
cada rico, quantos pobres seriam alimentados! E assim não mais se
veriam, nos bairros sombrios em que vivi, na minha última encarnação,
pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças necessitadas de
tudo.
Ricos! Pensai um pouco em tudo isso. Ajudai o mais possível aos
infelizes; daí, para que Deus vos retribua um dia o bem que houverdes
feito: para encontrardes, ao sair de vosso invólucro terrestre, um
cortejo de Espíritos reconhecidos, que vos receberão no limitar de um
mundo mais feliz.
Se pudésseis saber a alegria que provei, ao encontrar no além
aqueles a quem beneficiei, na minha última vida terrena!
Amai, pois, ao vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já
sabeis, agora, que o desgraçado que repelis talvez seja um irmão, um
pai, um amigo que afastais para longe. E então, qual não será o vosso
desespero, ao reconhecê-lo depois no Mundo dos Espíritos!
Quero que compreendais bem o que deve ser a caridade moral,
que todos podem praticar, que materialmente nada custa, e que
não obstante é a mais difícil de se por em prática.
A caridade moral consiste em vos suportardes uns aos outros, o
que menos fazeis nesse mundo inferior, em que estais momentaneamente
encarnados. Há um grande mérito, acreditai, em saber calar para que
outro mais tolo possa falar: isso é também uma forma de caridade. Saber
fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca
habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem
pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós,
quando na vida espírita, a única verdadeira, está às vezes
muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de
caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral.
Essa caridade, entretanto, não deve impedir que se pratique a
outra. Pelo contrário: pensai, sobretudo, que não deveis desprezar o
vosso semelhante; lembrai-vos de tudo o que vos tenho dito; é necessário
lembrar, incessantemente, que o pobre repelido talvez seja um Espírito
que vos foi caro, e que momentaneamente se encontra numa posição
inferior à vossa. Reencontrei um dos pobres do vosso mundo a quem pude,
por felicidade, beneficiar algumas vezes, e ao qual tenho agora de
pedir, por minha vez.
Recordai-vos de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensai
sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus! Pensai
naqueles que sofrem, e orai."
Nenhum comentário:
Postar um comentário