A amamentação no hospital, como todo o resto, foi o pior possível.
Quando cheguei no quarto, ainda com as pernas amortecidas, meu marido colocou a Luíza pra mamar. Ela ficou em cima de mim e assim que eu coloquei o peito ela sugou na hora e o primeiro comentário que eu fiz foi "Nossa, ela pega direitinho!". Me deu um certo alívio, pensando ingenuamente que se ela pegava certinho eu não teria problemas...ledo engano.
Ela ficou ali, mamando, mamando...minha mãe que estava me ajudando, trocava ela de peito, e ela sugava e sugava. Saía do peito e chorava. Sugou a noite inteira e de manhã percebi que haviam se formado duas bolinhas de sangue no meu mamilo, dois pequenos coágulos, de tanto ela ter sugado e não ter leite pra sair.
Aí começou a maratona, todo mundo me dizendo que criança tinha que ficar no peito o quanto tempo quisesse, pra estimular a descida do leite. Isso significa criança mamando 24 horas por dia, num peito sem leite.
Pausa: a descida do leite é estimulada pela sucção o caralho. Se fosse assim, mãe que tem um bebê natimorto não teria leite.
Continuando...
Saía do peito e berrava. Todo mundo vinha cheio de teorias e eu só sabia repetir uma coisa: "É fome. É fome. É fome..." Quase um mantra.
Luíza começou a chorar tanto que eu entrei em desespero e coloquei em prática meu plano B. Liguei para o meu pai e disse "Corra na farmácia comprar uma lata de NAN que a Luíza berra de fome e eu não tenho leite!". Ele foi e me trouxe, começou a Operação Leite Artificial. Meu marido colocou água morna numa garrafinha térmica e meu pai levou o NAN e a chuquinha numa sacola enorme, todo um disfarce rolando.
Quando recebi a sacola, ainda resisti por mais umas horas. Quando ela começava berrar de fome (veja bem, nem chorava, berrava mesmo!) eu colocava no peito, mas aquilo foi ficando angustiante, de uma certa forma que eu fiz a mamadeira, com muita dificuldade e como se eu tivesse cometendo um crime, parecia que eu seria presa se alguém visse, até parece que eu estava preparando veneno! Enfim, dei o leite escondido e rapidamente ela mamou tudo. Ficou quieta por umas três horas e depois começou a berrar de novo.
Quando vieram fazer aquele maldito teste de glicemia, a enfermeira se espantou, disse que estava ótimo pra um bebê cuja mãe ainda estava só com o colostro. Me elogiou e disse que era pra continuar assim, colocando ela pra mamar sempre.
Fiquei com medo da glicemia dela subir depressa demais e eles desconfiarem, se isso acontecesse provavelmente não me dariam alta (é o que eu pensava) e passei a dar novamente só o peito.
Um dia depois eu já estava com os mamilos doloridíssimos, assados e começando a rachar. Comecei a passar o Bepantol após cada mamada, pois quando tive o Fernando, o mesmo pediatra que estava lá dessa vez, disse que eu podia passar o Bepantol e nem precisava tirar pra mamada, então, dessa vez passei a fazer isso também, mas para o meu azar, a enfermeira, ou tecnica, me viu passando a pomada e veio me xingar. (levo como xingamento, tamanha falta de educação.) "NÃO PODE!! Quem te orientou a fazer isso?!?!?!?!"
Como quem diz "SUA IDIOTA! QUEM DEU ORDEM PRA VOCÊ FAZER ISSO?? POR UM ACASO EU MANDEI VOCÊ FAZER ISSO???"
E eu disse 'Ninguém deu ordem'. E ela disse 'Então não passe mais!'
Continuei passando escondido, mas toda hora pediam pra ver o meu mamilo e eu tinha que correr tirar a pomada antes que vissem, um saco. A verdade é que se eu não tivesse passado Bepantol teria saído de lá com os peitos em carne viva.
Aí começou a saga do 'Vou te ensinar amamentar'.
Cada hora vinha uma enfermeira com aquela técnica maravilhosa de fazer a pega no meu mamilo e empurrar a cabeça do bebê pra que pegue o mamilo todo. Eu, como da primeira vez, comecei a ficar nervosa com tamanha falta de respeito e já estava com 'sangue no zóio' a ponto de esmurrar a próxima enfermeira que viesse pegar em mim ou na minha filha.
Veio uma, apenas uma, com total respeito. Colocou uma luva,perguntou se podia me ajudar. Eu perguntei 'Posso eu colocar a minha bebê pra mamar e você ver?' Ela disse 'Sim, claro!' Eu coloquei a Luíza pra mamar e ela olhou, e me disse 'Está certinho, mamando certinho, é assim mesmo!'. Me deu a dica de colocar o dedinho na boca dela pra tirar o peito (a qual eu já sabia) e pronto. Simples assim.
Mas as outras enfermeiras...principalmente uma mais infeliz, me pegaram pra Cristo. Elas perceberam a minha resistência em aprender, e me pegaram pra Cristo. Vinham, cinco, seis vezes no dia, com aquelas luvas, aquelas técnicas idiotas, me dando lição de moral.
Teve uma que veio com aquela 'técnica infalível' de cutucar a bochecha do bebê quando ele dorme. A Luíza dormiu mamando e eu passei o dedo na bochecha dela, quando a enfermeira disse "Mas não pode fazer carinho, tem que incomodar! Assim ó!" E cutucou com força a bochecha da MINHA FILHA!!!!
Agora pensem numa mulher que acabou de ter filho, passou por uma cesárea e está com os hormônios à flor da pele...Auto controle, a gente via por lá! Muito!!!
Engraçado que no meu quarto havia mais três mães e mais três bebês, mas elas ficaram invisíveis, o foco era eu, talvez pela rebeldia rs
Próximo capítulo: a fonoaudióloga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário