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sábado, 8 de março de 2014

O Parto

Então eu estava numa situação de tudo ou nada, de agora ou nunca. Soube que o meu médico cesarista, que fez todo o meu pré natal, dava plantão um único dia na semana no hospital que eu teria a Luíza. Esse dia era quinta feira, dia de consulta. Numa madrugada de insônia, pensando se ele aceitaria ou não o meu pedido, tive um medo: e se o plantão dele começasse na madrugada de quarta pra quinta? Minha única chance teria ido por água abaixo. Então, antecipei por conta própria o dia da consulta e na quarta de manhã apareci no posto pedindo um encaixe.
Ao entrar na sala, o médico perguntou o que estava acontecendo, se eferindo ao adiantamento da consulta. Eu tavatão nervosa que só falei abobrinhas, disse que eu estava nervosa, há dias sem dormir por medo do parto e que queria cesárea. Ele se espantou achando que eu queria a cesarea naquele momento, e disse que se me encaminhasse para o hospital o médico me mandaria de volta pra casa, pois eu estava sem dor e sem dilatação, mas que ele poderia fazer a cesárea no dia seguinte, e que era pra eu ir ao hospital às 14:00, que ele chegava às 13:00.
Mal coube em mim de contentamento. A todo momento pensamentos pessimistas me rodeavam, como por exemplo: e se ele, por algum motivo, não for trabalhar amanhã? Mas eu tive auto-controle, o que pra mim é difícil, muito difícil.
No dia seguinte lá estava eu, meu marido, Fernando, minha mãe e meu pai. Chegamos na maternidade 13:00 hora. Tinha bastante gente pra ser atendida, grávidas com dores de parto que voltavam pra casa. Teve uma que se recusou a ir, ficou na portaria, pois estava de 35 semanas e com contrações. Enfim, ele me examinou e começaram os procedimentos.
Fiz minha ficha de internação, a atendente perguntou se minha cesárea estava agendada (com um certo ar de especulação), eu disse que não.
Deitei numa maca e me colocaram no cardiotoco. Fiquei lá por 15 minutos, e respondendo perguntas.
Achei que ia direto dali para a cirurgia, perguntei pra enfermeira se eu podia avidar meu marido que eu tinha entrado, pois ele não tinha visto, e ela me disse que não, e perguntou em tom irônico se ele estava com pressa.
Saí dali e fui pra sala de preparo. Deixamos as malas no quarto e fomos. Fui orientada a colocar a camisola e deitar na maca. Ok, deitei na maca e a enfermeira me pediu para trocar de maca, OK. Lá veio ela passar a sonda. Não doeu mas ardeu, e fiou ardendo, fiquei com aquela sensação de querer fazer xixi. A enfermeira me pediu pra passar pra outra maca e eu seria levada, Ok! Fácil que é levantar e deitar com aquele barrigão e dor nas costas..mas OK, essa enfermeira pelo menos era muito boazinha, delicada, prestativa, um amor mesmo.
Lá fui eu na maca pelos corredores. O tempo todo eu perguntava do meu marido, se ele poderia assistir, uns diziam que talvez, outros diziam que não. Filmar, nem em sonho! Foram categóricos, nem filme, nem foto.
Fiquei na sala de pré operatório, fiquei lá esperando por uns 20 minutos, até que me levaram.
Ao entrar na sala de cirurgia, passei pra outra maca, uma maca dura feito cimento.
Começaram os procedimentos e eu sentei pra anestesia, o médico me passou na costa um negócio bem gelado, e depois mais um bem gelado (imaginei aquilo no frio...) e depois a anestesia. Olha, doeu. A anestesia doeu bastante, eu me contraí toda, o anestesista pediu pra eu relaxar, soltar o bumbum na maca pra que fosse mais fácil, mas eu sentia o líquido entrando na coluna, não tinha fim! Com o Fernando não senti nada disso, talvez por estar  com dor de parto, a anestesia foi como uma picada de pernilongo, perto daquela dor. Após isso deitei e ao conversar com o anestesista descobri que ele era conhecido do meu marido.
A anestesia começou a fazer efeito e caiu a minha pressão, fiquei com ânsia e aquela sensação de desmaio, ele me aplicou um remédio e em um minuto eu estava normal.
Ao olhar pro lado vi o meu marido, que ficou meio assustado ao me ver naquele estado, e branca, a cor ainda não tinha voltado...Perguntei se ele estava nervoso e ele disse que sim, ainda mais me vendo daquele jeito. Eu já estava com os braços amarrados e com aquele pano no rosto.
Nota: Pra escolher parto cesárea você tem que confiar 100% na equipe, pois fica totalmente entregue.
Meu marido me deu a mão e ficamos lá, esperando. Em alguns minutos o médico disse: nasceu! E nós escutamos o chorinho. Um chorinho baixinho, bem delicado. Eu disse que estava chorando muito fraquinho e o médico, o amigo, disse que era normal, que mal tinha saído e já chorava, e que tinha feito cocô na minha barriga. Eu perguntei: 'Na minha barriga ou assim que saiu?', e ele disse 'Assim que saiu', e me mostrou nas fotos que havia tirado. Na mesma hora falei para o meu marido: 'Ela fez cocô de medo'. Sei que sim.
Eu não a vi, a não ser por foto. A levaram e trouxeram um tempo depois, pra mim pareceu bastante, tipo uns 10 minutos, mas não sei ao certo. Quando a vi no colo do pediatra, estava limpa e de pulseirinha. Ela tinha o rostinho que eu imaginava, diferente do Fernando que nasceu totalmente diferente do que eu pensava. Luíza era, parecia, miudinha e branquinha. O médico colocou o rosto dela junto do meu e eu disse "Oi meu amor...pronto, já passou!!"
Nasceu as 16:10 com 3,530kg e 50 cm, com apgar 9/10.
Meu marido saiu da sala e eu fiquei lá um tempão, a Luíza tinha sido levada e me disseram que trariam dali uma hora. As enfermeiras me limparam, me passaram pra outra maca e fui pra sala de pós operatório. Fiquei lá por uma hora. Senti coceira nos braços, seios e rosto, mas disseram ser normal, dava pra suportar. Não me senti mal por não mexer as pernas, me sentia relaxada e nem tentava mexer, me sentia muito cansada...não entendo porque se não fiz nada, mas parecia que tinha corrido uma maratona.
Fui para o quarto, me passaram pra cama e trouxeram meu marido e a Luíza. Na mesma hora vi que o olho dela estava vermelho e inchado, eu sei que foi aquele colírio. A colocaram no meu seio direito e ela abocanhou e sugou super forte! Eu disse "Olha, ela pega certinho, sabe mamar direitinho!!"
Meu marido saiu e entrou minha mãe. Luíza ficou ali em cima de mim, mamando e dormindo, já com a roupinha que eu havia separado pra ela, e de banho tomado. Ficou ali por horas...
Quando foi 22:00 levantaram a cabeceira da cama e trouxeram alguma coisa pra eu comer, mas eu já havia tomado uns golinhos de suco Ades da minha mãe, pois estava em jejum desde as 9:00 e com a boca seca.
Assim foi o nascimento da Luíza. Bonito? Não. Mas no auge do meu egoísmo, confesso, ainda prefiro todo esse sofrimento do que a dor do parto normal. Se a minha filha prefere? Certamente que não. As lembranças são doloridas, jamais me sairão da memória, mas pra mim, infelizmente, o parto, ou nascimento, é uma passagem pela qual eu tive que passar para ter os meus filhos. É natural, deveria ser encarado por mim com naturalidade, mas encaro como parte do processo, a parte ruim, dolorosa, a qual deve ser superada a cada minuto. A cada minuto que passava eu pensava 'menos um', a cada dificuldade superada eu pensava 'menos uma'. Foi sofrido sim, pra mim, pra Luíza principalmente, eu sabia que seria mas ao ver tudo fica ainda mais dolorido. Fez parte e tinha que ser assim.

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