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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Gatinha que ERA de rua

Então né, há uns bons anos que eu não pego animal de rua, a última que eu peguei foi a Nina que está comigo ha sete anos, não, depois da Nina teve o Tommy (um gatinho filhote que morreu de PIF, Peritonite Infecciosa Felina, mas tudo bem pode fazer a piada de que ele PIFOU!). Sempre MORRI de dó de animais de rua, mas aquele dó mesmo do fundo do coração, por isso ao deixar meu lado egoísta  racional falar mais alto, passei a passar (??) reto pelos bichanos, com muita dor no coração mas fingindo que não via. Já peguei animais de rua algumas vezes e eu sei o transtorno que é pra doar, ninguém quer, pra castrar, vacinar, dar vermifugo, carinho, atenção, limpar sujeira, etc.
Daí que eu tava voltando do médico (que não me atendeu porque cheguei atrasada) encontro essa gatinha na rua comendo capim.

Dormindo comigo na casa da minha mãe

Vi que era meio filhotona (e meio feinha, tadinha), devia ter uns 4 meses, e eu num momento de carência fui fazer carinho na gata, mas juro que eu pensei que, como a maioria dos gatos, ela fosse arisca e ia sair correndo, mas para o meu azar e pra sorte dela, ela veio ronronando e se encostando em mim, e eu a carreguei e ela começou a 'mamar' na minha roupa. Pronto, estava feita a cagada. Jamais teria coragem de devolvê-la na calçada, eu já estava tomada de amor por ela (sim, sou dramática, mas é verdade, meu coração pula quando carrego um filhotinho!!). Não sei se foi a Fluoxetina no café da manhã, mas eu estava tão tranquila que pensei "Vou levar pra casa...um gatinho a mais um a menos...que que tem?" Ah...ledo engano, mal sabia o que me esperava.

Cheguei em casa, a gatinha avançou nas cachorras, que foram pra fora. O Pocoyo parecia possuído, se arrepiou todo e soltava uma voz...uma voz de gente, só faltou falar. E a gatinha nem aí..brincando, bebendo água dele, comendo ração dele, e vindo pro meu colo...
Mandei mensagem pro marido, que surtou imediatamente. Eu entendo, até que ele tem razão, porque ele perdeu o emprego, e eu estou desempregada, não damos conta nem dos que temos, eu não tenho o mínimo de atitude racional. Enfim, ele me falava coisas do tipo: 
"Não dá pra ficar com essa gata aí. Não dá. Saia com ela daí antes que o Fernando acorde. Porque você pegou? Você mora sozinha belezona, pra pegar um gato assim sem falar com ninguém? Animal tem que ser conversado, planejado, não é assim. Eu vou embora pra casa, tô indo aí resolver, tô indo aí..."
E claro, no meio de tudo isso eu argumentando argumentos sem sentido que jamais convenceriam uma pessoa racional, eu dizia:
"Mas ela é tão fofinha, carinhosa!! Não vou jogar na rua vai ser atropelada! Ela fica no meu colo!! A gente pede ajuda pra castrar e vacinar!!" (ajuda só se for de Deus).
 Enfim, quando vi que não ia ficar mesmo com a gata, comecei a chorar, chorei muitoooo mesmo. Meu marido falou pra eu levar na Magrela (a mulher que tem loja de ração aqui na frente de casa) e eu imaginando que ia ter q deixar a coitada numa gaiola, chorava mais ainda, chorava e chorava. 
Enrolei ela na minha blusa e fui na Magrela, pensando que deixaria a gata lá com a minha blusa, depois eu pegava, (só que a blusa era da minha mãe! hahahahaha, a loca!) e ia pedir o telefone da pessoa que adotasse.
A Magrela estava fechada. E agora? Voltei lá na rua onde tinha encontrado, apertei a campainha da casa que ela estava na frente, perguntei para os vizinhos, e nada. Pensei comigo "Vou na casa da minha mãe, meio dia a Magrela abre e eu levo lá". Então, para o Fernando não ver a gata, fui na minha mãe, coloquei um colchãozinho na sala e deitei, e a gatinha deitou comigo e dormiu, e isso tudo de manhã, e eu com os olhos pesados de tanto chorar, dormi também. Minha mãe continuava em casa dormindo com o Fernando e sonhando que eu estava no médico.

Dáquiapouco o maior susto que já levei: Meu pai acordou, escutei ele indo ao banheiro, trocou de roupa, tomou um golinho de café, e eu lá na sala deitada com a gata. Gente, eu não sei porque eu estava tão calma, mas jamais imaginei que uma pobre gatinha fosse causar tanto fuzuê!!
Meu pai surtou quando viu a gata, deu até um pulinho pra trás, faltou saltar os olhos igual em desenho animado, e falou:
"E ESSE GATO?????" 
"Pai, eu peguei..."
"NÃÃÃO QUERO SABER!!!" (faltou tapar os ouvidos e lá lá lá lá lá lá) 
"Pai, o Marco não quer e eu..."
"EU TAMBÉM NÃO QUERO!! PODE POR NA RUA!!" 
"Eu vou doar..."
"PÕE NA RUA JÁ!!"
Esses são os diálogos que eu tenho com o meu pai.

Quem lê meu blog sabe o pai que eu tenho, e nem se assusta com o que vou escrever. Ele saiu dizendo em voz alta:
"TEM MERDA NA CABEÇA MESMO, MERDA, MERDA NA CABEÇA"
E bateu a porta, saiu pra rua e eu podia ouvir ele na calçada falando:
"MERDA, MERDA NA CABEÇA!!"

Pensei: Senhor vou sumir com essa gata daqui! Porque realmente achei que íamos entrar numa luta corporal se ele viesse pegar a gata à força. E lá vou eu na Magrela, que continuava fechada. Voltei pra minha casa, minha mãe estava na sala com a Luíza que tinha acordado (e o Fernando dormindo) e começou o sermão:
"Aline, você não tem juízo Aline. Se eu pensava que você tinha um pouquinho de juízo, agora tenho certeza que você não tem nenhum. NA MINHA BLUSA? Ai Aline gato tem que castrar, animal dá gasto, a gente não tem dinheiro...TIRA DO SOFÁ, TRAZ DOENÇA! Você tem criança pequena Aline..." 
"Que que eu faço mãe? A Magrela tá fechada ainda!!"
"E eu achando que você tava no médico, venho aqui cedo, sete horas da manhã, e você chega agora meio dia, ficou andando com gato pela rua, meu deus do céu, você não tem juízo nenhum. Não pensa Aline, você não pensa!"

E depois de me mandar sair da minha própria casa antes que o Fernando acordasse, me deu a idéia de levar a gata no Pet Shop que tem duas ruas pra cima. Eu fui.
Pense numa pessoa exausta, com o coração (e uma gata) na mão, descabelada, com a cara inchada de tanto chorar. Pois bem, fui assim, entrei no Pet Shop, a dona não estava, veio uma senhora, a funcionária, e disse que não poderia ficar porque a dona ia viajar dali uns dias. Mas a senhora ficou tão compadecida, disse que também tinha animais de rua, carregou a gatinha...e me disse:
 "Olha, eu tenho uma amiga que mora na rua tal, número tal, a gata dela sumiu, não é essa, mas vai lá, ela é de Deus vai te ajudar, tenho certeza. Conta uma história triste, que a gata estava sendo chutada por um drogado.. (oi? não sei mentir minha senhora...) Vou ficar orando aqui"
E lá fui eu embaixo de Sol subir mais cinco quarteirões até a casa da amiga.

A blusa da minha mãe rs

Achei a casa da mulher e bati no portão, estava esbaforida, suada, descabelada e parecia bêbada porque enrolei muito, não sabia o que dizer.
"Senhora..me disseram que a senhora perdeu uma gata...não seria essa?"
"Não, a minha era preta e branca..."
"Ai, eu estou desesperada, porque ela estava no meio da rua, e tinha um homem chutando..."
(Se ela estava no meio da rua como tinha um homem chutando?)
"CHUTANDO??"
"É senhora, um homem meio bêbado...sei lá..."
"QUE HOMEM, ONDE? ONDE?"
"Já foi embora, só chutou e passou... (ma ôeee?) mas acontece que eu não posso ficar com ela, e blá blá blá"
Contei toda a história, ela pegou a gata e disse que naquele momento me ajudaria, mas mais cinco minutos de conversa e ela resolveu ficar com a gata, e eu pude ver do portão, a gatinha estava no colo da mãe dela no sofá.
Dona Marlene me abraçou e me beijou muito (nunca vi a mulher na vida) disse que eu era linda, de bom coração, que era pra voltar lá visitar a gata, etc.
E eu também quase chorando, dei uma desabafadinha básica (se não, não sou eu) e voltei pra casa, cansadíssima, tremendo, tive muito medo de ter que deixar a gata numa gaiola!
E fui expulsa três vezes: pela minha mãe, pelo meu pai e pelo meu marido.
Quando cheguei sem a gata, o alívio. Minha mãe falou de novo "Você não tem juízo" mas dessa vez eu tive resposta: "A Marlene acha que eu tenho um coração enorme que sou linda e sou de Deus, tá?"

A paz invadiu o meu coração, de repente se encheu de paz, saber que eu consegui a trancos e barrancos um lar cheio de amor pra gatinha que também tinha muito amor pra dar.

Agora ficou mais uma vez a lição, de que pegar animal na rua é bucha, que ser sentimental é uma bosta, que ajudar uma gatinha filhote é a melhor coisa do mundo, que minha família (e meus vizinhos) me acham louca de tudo, e que existem pessoas boas no mundo, como a Dona Marlene.






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